Corro para o Alvo

Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. Filipenses 3.14-15

segunda-feira, maio 25, 2009

ORANDO COMO JABES - UMA ORAÇÃO COM CONTEÚDO

 

1 Crônicas 4.9-11

Foi Jabez mais ilustre do que seus irmãos; sua mãe chamou-lhe Jabez, dizendo: Porque com dores o dei à luz. Jabez invocou o Deus de Israel, dizendo: Oh Deus, eu te peço que me abençoes e alargues as minhas fronteiras, que seja comigo a tua mão e me preserves do mal, de modo que não me sobrevenha aflição. E Deus lhe concedeu o que lhe tinha pedido. (1Crônicas 4.9-11)

1. INTRODUÇÃO
Como uma pérola, a oração feita por Jabes (ou Jabez) está incrustada na grande genealogia de 1 Crônicas, na forma de uma curta (curtíssima) biografia. Pouco sabemos a seu respeito, além do que informa o texto de 1Crônicas 4.9-11.
A seção contém informações sobre Jabes e a oração que ele fez. Dele a Bíblia diz que sua mãe lhe deu este nome (que significa "dor", "tristeza") em função do parto difícil que teve. Também dele as Escrituras informam que Deus respondeu à sua oração, concedendo-lhe conforme pedira.
Em torno desta pequena oração, uma das mais curtas da Bíblia, o pastor Bruce H. Wilkinson, atualmente vivendo no Alabama, escreveu um também curto livro (The Prayer of Jabez [Multnomah Publishers], ainda sem tradução para o português), que já vendeu seis milhões de cópias nos Estados Unidos (dados de julho de 2001). Sua proposta é que todo cristão repita diariamente esta oração, como o autor faz há mais de 30 anos, depois de a ter descoberto pelas mãos de um dos seus professores no seminário.
O maior mérito do livro é trazer para a luz um texto escondido numa genealogia, sobre a qual pulamos quando estamos lendo a Bíblia. A história de Jabez é impressionante e tem muito a nos ensinar. A oração que ele fez é uma prece bíblica, que guarda muita proximidade com a oração que Jesus Cristo ensinou.
Evidentemente, a oração de Jabez não deve e não pode ser vista como uma fórmula mágica para abrir o coração de Deus. Não se pode abrir o que está aberto. De igual modo, esta oração não pode ser vista como um mantra que se repita à exaustão, mesmo porque Jesus condena as vãs repetições quando nos ensina a orar (Mateus 6.7).
Antes, esta oração deve ser vista como uma demonstração do poder gracioso de Deus, que atende os nossos pedidos. Esta prece deve ser vista também como um ensino profundo acerca da oração. A experiência de Jabez é um desafio para as nossas vidas, desafio e consolo; se Jabez foi abençoado, eu também posso. A oração de Jabez é um modelo para nós, sobre o modo como devemos comparecer perante Deus.

2. RELIGIÃO NÃO É CONFORMISMO
O texto começa e termina de modo informativo. Jabes era um israelita criado para fracassar, pois que recebera um nome terrível de sua mãe: "tristeza". Esta herança, gerada a partir do seu nascimento, era um peso que lhe acomparia o resto da vida. No entanto, ele não aceitou esta maldição e invocou o Deus de Israel, pedindo para ser abençoado, para ter ampliado o seu patrimônio, para ser preservado do mal, que faria com que escrevesse uma história bem diferente do que se prenunciava. Informa a Bíblia que Deus o escutou, concedendo o que pedira. Graças à bênção de Deus, Jabes se tornou o membro mais ilustre de sua família, tão ilustre que ninguém mais é mencionado; só ele.
A oração foi o recurso que Jabes usou para pedir que Deus o livrasse de sua herança, marcada no nome e no tamanho da sua propriedade. Jabes não se tornou uma vítima da maldição recebida. Jabes não aceitou os limites que a vida queria lhe impor.
Jabes teve consciência da tragédia que seria sua vida e pretendeu mudá-la. Jabes tinha consciência do que era interiormente e do que era materialmente. Jabes não quis ser o que era e não quis ter o que tinha. Jabes queria ser mais do que era e ter mais do que tinha.

1. Jabes não aceitou o significado do seu nome. A escolha do nome de um filho tem a ver com as visões e as experiências dos seus pais por ocasião do seu nascimento. Um nome de filho é sempre a expressão de um desejo. Jabes era um nome novo, inventado por sua mãe, que pensou apenas no momento, não cogitando do impacto do nome ("tristeza") sobre o curso da vida do seu filho. Na antiga cultura hebraica, um nome tinha um peso muito grande e os pais eram cuidadosos nas suas escolhas. Muitos se esforçavam para que suas vidas honrassem seus nomes.
Na nossa cultura, os nomes significam menos, mas ainda significam. Conta a crônica (não-escrita) da minha família que meu nome era para ter apenas duas letras: Er. Meu pai achava lindo este nome, que significa "vigilante, atento". Meu avô materno conhecia a história de Er (narrada em Gênesis 38.7: Er, porém, o primogênito de Judá, era perverso perante o Senhor, pelo que o Senhor o fez morrer.) e não quis este nome para mim. Desde cedo aprendi o significado do meu nome ("príncipe de Deus" ou "aquele que lutou com Deus e venceu") e isto me fez muito bem.
A propósito, os pais devem ser atentos nas escolhas dos nomes dos seus filhos. Ainda acho que os mais lindos são os bíblicos, também porque são capazes de incutir na criança o sentimento de pertencimento ao povo de Deus e poder se inspirado por alguém que teve o seu nome. Há muitos homens com nomes femininos e vice-versa. Há muitos nomes com sons estranhos. Há muitos nomes que reportam personagens que deviam ser esquecidos. Em  nossa cultura, em que a maioria das pessoas não sabe os significados dos seus nomes, els não têm poder. Nem por isto, os pais devem ser menos responsáveis.
No caso de Jabes, seu nome era o resumo de uma vida anunciada. E ele não aceitou este anúncio. A recusa do significado do seu nome era a recusa das características herdadas e das características aprendidas na infância. Ele nasceu um fracassado, mas não viveria como um fracassado. Seu nome era para fazer dele um tímido, mas ele se recusou a viver andando pelos cantos e olhando para baixo. Jabes não aceitou sua herança emocional. Jabes não aceitou ser pequeno, apagado, inexpressivo, encurvado. Sua oração revela o seu desejo de ser aquilo para o que Deus o fez.

2. Jabes não aceitou as condições materiais de sua vida. Quando Canaã foi colonizada pelos israelitas, cada família recebeu uma herança inicial de terras. Os limites geralmente eram territórios de outros povos. Cabia aos novos proprietários ampliar as suas fronteiras. Muitas famílias, possuídas da síndrome de Gabriela ("Eu nasci assim, vou morrer assim"), aceitaram suas heranças, mesmo que fosse insuficientes para o sustento de todos. Outros foram à luta para ampliar seus limites. 
Jabes, quando nasceu, tinha fixado o tamanho de sua propriedade. Ele não achou que era suficiente e quis ampliá-la. E orou para que seus bens se multiplicassem.

3. A experiência de Jabes guarda uma correspondência com as nossas. Cada um de nós tem uma herança. Há muitos cristãos que receberam uma herança miserável e vivem miseravelmente, tanto no plano interior quanto no plano material. No entanto, este não é o projeto de Deus para nenhum dos seus filhos. Ele não fez você para viver num vale de lágrimas. Ele o gerou em amor para caminhar nos altiplanos da vida, nunca nos vales, jamais nas sombras. Ele o gestou com carinho; você não é o produto do acaso, nem um aborto da natureza.
Apesar do nome que sua mãe lhe deu, o Senhor não fez Jabes para ser um triste, um derrotado, um medíocre, um medroso. Deus não iria desperdiçar seu amor para fazer um "substrato de pó de nada", mas fez Jabes -- como a cada um de nós também -- pouco menor do que Ele mesmo e maior do que os próprios anjos, coroando-o -- e a cada um de nós também -- de glória e de honra (Salmo 8.5). Cada um de nós é uma obra-prima da mão do Criador. Por saber disso, Jabes retraçou seu próprio destino. Lembrando-nos disso, precisamos reescrever nossos destinos, se eles estão aquém do desejo de Quem nos fez.
A religião de Jabes não fez dele um conformista.
Apesar do país em que vivia, o Senhor não fez Jabes para viver acuado, sem futuro, sem brilho. Ele queria fazer de Jabes alguém ilustre e que contribuísse para o desenvolvimento da sua nação.

4. A crônica trajetória brasileira de injustiça, corrupção, violência e desemprego tem tornado os brasileiros um povo envergonhado de si mesmo. Nossa auto-estima nacional é baixa. Há países com menos recursos materiais e humanos do que o nossso mas que, pela consciência nacional, são grandes nações, com mais oportunidades para seus habitantes.
De fato, olhando para o horizonte brasileiro, que expectativa podem ter, em termos de emprego, os nossos jovens, que expectativa podem ter, em termos de segurança, os nossos adultos, que expectativa podem ter, em termos de alegria, as nossas crianças? As nossas expectativas são baixas, porque a nossa estima é baixa. Nós entregamos a administração das cidades, dos estados e do país a uma elite interessada tão somente no enriquecimento e no enriquecimento rápido.
Esta é a nossa herança. A herança de Jabes, no tocante à sua nação, não era melhor que a nossa. Se a aceitasse, Jabes viveria toda a sua vida no pedacinho que lhe coube, por mesquinho que fosse. Se queremos ampliar nossos próprios limites, temos que fazer do Brasil um grande país, tirando o seu controle da mão dos corruptos.
Não dá para cuidarmos de nós mesmos se não nos importarmos com o nosso país. Não haverá oportunidade para nós se não houver para todos. O vale-tudo é filho de nossa natureza decaída e da falta de oportunidades, em termos de educação, saúde e moradia. É um erro achar que resolveremos por nós mesmos os nossos problemas.
Diante da circunstâncias que lhe tiravam as perspectivas, Jabes, a partir da oração, lutou para mudá-las. Eis como devemos fazer: em lugar de permitir que as circunstâncias nos dominem, nós devemos nos esforçar para dominá-las ou para triunfar apesar delas. Não se acorrente a maldições familiares ou sociais.
Não importa a sua idade, não aceite as condições que tentam lhe impor. Não desperdice a sua vida. Não se conforme jamais. Multiplique os bens que recebeu dos seus pais. Como Jabes, não aceite a herança patrimonial que recebeu. Se não recebeu muito, apenas educação, seja-lhes grato (porque este é o maior investimento, melhor do que casa ou carro), estude cada vez mais, para ter mais que seus pais tiveram. Eles ficarão honrados. Se não recebeu absolutamente nada, deixe mais para os seus filhos. Seus pais também ficarão honrados, se virem o seu triunfo.

3. A BOA ESCOLHA
A bênção divina sobre Jabes foi um processo, não algo imediato.

1. Ela começou com Jabes alcançando uma consciência adequada de si mesmo e do seu meio. Esta consciência de suas limitações e de seus limites foi o ponto de partida para uma transformação inicialmente interior e que alcançou todas as dimensões da sua experiência.

2. Esta consciência, quando sozinha, gera ainda mais infelicidade. No caso de Jabes, ela foi acompanhada do desejo de superar os limites. Por isto, esta consciência e esta disposição talvez tenham sido a maior bênção que recebeu. Podemos inferir que Jabes era um homem de oração, porque, na situação em que estava, não conseguiria ver quem era se não fosse a partir de sua percepção e de seu relacionamento com Deus.

3. Jabes orou. Jabes não se achava um super-herói capaz de derrubar todos os obstáculos, inclusive aqueles mais interiores. Ele confiou em Deus para fazer dele um vitorioso.
Temos nós convidado Deus para fazer parte de nossa caminhada? Nossos projetos O incluem? Em nossos sonhos Ele está presente? A oração tem sido parte de nossas vidas? Se sim, triunfaremos, não importam as condições, internas e externas.

4. Jabes orou corretamente, não no sentido formal, mas no do conteúdo.
Negativamente, ele pediu para não viver a maldição que recebera. Ele pediu para não ter longe de si a mão de Deus. Ele pediu para não ser alcançado pelo mal. Ele pediu para que a tristeza não fosse a companheira da sua vida. Temos orado assim?
Positivamente, ele pediu para ser abençoado por Deus. Ele pediu para que a mão de Deus estivesse com ele. Ele pediu para que Deus o preservasse do mal. Ele pediu para ter uma vida tranqüila. Temos orado assim?
Embora correto, não é este o único tipo de oração que devemos fazer. Jabes orou por si mesmo, e isto é legítimo, como também é necessário que oremos uns pelos outros. Na sua situação aflita, sua oração pode parecer egoísta, mas não foi, porque Deus a respondeu e Deus não atende aos egoístas.

5. Jabes ousou. Jabes  tinha uma meta na vida e viveu por ela na presença de Deus. Ele ousou. Seus irmãos se conformaram e sumiram. Ele quis mais e hoje sabemos seu nome e lembramos sua experiência como válida para nós.


4. CONCLUSÃO
A oração de Jabes não deve ser vista por nós apenas como um conjunto de palavras, mas como a expressão de uma atitude de vida.

Oh Deus, eu te peço
que me abençoes
e alargues as minhas fronteiras,
que seja comigo a tua mão
e me preserves do mal,
de modo que não me sobrevenha aflição.
Em nome de Jesus. Amém.

Que a nossa vida reflita as palavras desta oração. Que as palavras desta oração seja nossa abertura para que Deus mude a nossa vida.

Pr. Israel Belo de Azevedo